Texto tirado do Livro: Ciência Hoje na Escola Falando de Saúde com crianças.
V ocê gosta de jogar bola? Já pulou amarelinha? E de
um bom banho de mar — quem não gosta? Brincar, estudar, cantar, dançar, fazer amigos,
conversar, comer e dormir são as atividades que mais fazem bem à saúde das
crianças. No entanto, muitos meninos e meninas desse Brasil não conseguem ter
uma vida de criança, pois desde cedo precisam trabalhar. São crianças que têm
sua infância roubada. Ainda pequenas, elas aprendem que é preciso se virar para
continuar vivendo. Filhas de famílias pobres, elas têm de ajudar na renda da casa,
prejudicando assim seu lazer, seus estudos, seu desenvolvimento saudável —
enfim, o seu presente e o seu futuro.
A
mais recente pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), feita em 2003, constatou que existem no país aproximadamente 5 milhões
de crianças e adolescentes, entre 5 e 17 anos de idade, que trabalham. Eles
representam quase 20% de todas as pessoas economicamente ativas, ou seja, de
todos os trabalhadores brasileiros. E muitos deles, ainda por cima, desenvolvem
atividades definidas como perigosas e insalubres, isto é, que podem colocá-los
em risco e fazer muito mal à sua saúde.
Proibido para
menores
A
legislação brasileira, no entanto, proíbe o trabalho de crianças e de
adolescentes com idade inferior a 16 anos. Somente em algumas circunstâncias especiais
é que, como determina o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), criado em
1990, os adolescentes podem trabalhar: se têm mais de 14 anos, podem ser
contratados na condição de aprendizes; se têm mais de 16 anos, na condição de
trabalhadores protegidos e com os direitos trabalhistas e previdenciários
assegurados. Trabalho prote-gido significa que os jovens não podem desenvolver atividades
de trabalho penosas (abatede animais), perigosas (construção civil), insalubres
(coleta de lixo) e noturnas (bares e restaurantes).
Apesar
da proibição, a realidade é bem diferente. As pesquisas mostram que geralmente
a carga horária das crianças e adolescentes que trabalham não é nada pequena.
Um terço deles, com idades entre 5 e 17 anos, trabalham 40 horas ou mais. É
claro que não sobra muito tempo para a escola e mais da metade dessas crianças
e jovens não freqüentam as aulas. Outros combinam estudos e trabalho, o que consome
40 horas ou mais do seu tempo. E o tempo para brincadeiras e diversão? Quase
nenhum.
Exploração do
trabalho infantil
Dizem
que só relógio trabalha de graça. A grande maioria do grupo de crianças de 5 a
9 anos que trabalham, porém, não ganha dinheiro algum. Elas trabalham apenas em
troca de casa e/ou comida. Outro aspecto da exploração é que cerca de metade
das crianças e adolescentes ocupados estão expostos a ambientes de trabalho
perigosos e insalubres, isto é, que incluem a utilização de produtos químicos,
máquinas, ferramentas ou instrumentos de trabalho extremamente prejudicais à
saúde.
E
por que o trabalho infantil é proibido por lei? É porque, além de prejudicar o
crescimento e o desenvolvimento das crianças, atrapalha a escolarização adequada.
Essas crianças e jovens, levados ao trabalho antes do tempo, geralmente como
uma
forma de
sobrevivência econômica das famílias mais pobres, acabam perdendo a
oportunidade de alcançar um grau de escolarização maior, capaz de lhes
garantir, no futuro, uma melhor colocação no mercado de trabalho.
Crianças
e jovens precisam de tempo, espaço e condições favoráveis para se desenvolverem
plenamente, e o trabalho precoce pode impedir seu desenvolvimento saudável.
Nossa sociedade precisa erradicar o trabalho infantil e cuidar mais das
crianças. Afinal, como nos ensina a música do Paulo Tatit e do Arnaldo Antunes,
criança não trabalha, criança dá trabalho!
Suyanna Linhales
Barker
Psicóloga e
coordenadora do Programa de Saúde do Trabalhador
Adolescente da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Marco Antônio
Gomes Perez
Médico
sanitarista e do trabalho, coordenador da Área Técnica
de Saúde do
Trabalhador do Ministério da Saúde
Maria da Graça
Luderitz Hoeffel
Médica
sanitarista e do trabalho, assessora técnica da Área
Técnica
de Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde
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