sábado, 8 de dezembro de 2012

Filme: Quando tudo começa




Ficha Técnica do Filme:

Título original: Ça commence aujourd´hui (Quando tudo começa)
Diretor: Bertrand Tavernier.
Atores: Philippe Torreton, Dominique Sampiero, Maria Pitarresi, Nadia Kaci, Françoise Bette, Christine Citti, Emmanuelle Bercot e crianças de pré-primária.
Gênero: Drama
Origem/Ano: FRA/1999
Duração: 105 min



Sinopse: 



O filme conta a dificuldade de Daniel Lefebvre (Philippe Torreton), professor e diretor de uma Escola Pública de Educação Infantil da pequena cidade de Hernaing, na França, em 1998. Hernaing é uma pequena cidade que sofre com o fechamento das minas de carvão e enfrenta uma taxa alarmante de 34% de desemprego. 

Em sua rotina de trabalho ele enfrenta sérios problemas, tanto com as famílias das crianças, quanto com o governo municipal. Dentre as dificuldades que ele encontra com os familiares das crianças estão, a falta de pagamento devido o desemprego, a falta de tempo de alguns pais para levar seus filhos à escola, a falta de interesse das famílias em educar suas crianças, além de problemas de infraestrutura familiar, tais como, más condições de moradia, de alimentação, a falta de afeto, e até problemas de incesto e agressão. 

Nesse contexto, o professor e diretor, se envolve terminantemente com os assuntos da comunidade e solicita a todo momento auxilio da Assistência Social para que esta solucione as dificuldades familiar que afetam diretamente às crianças e seu aprendizado. Porém, é nesse momento que ele se depara com a negligência do governo municipal da cidade. Nesse ponto ele enfrenta dificuldades, tais como, a burocracia dos serviços, as altas demandas da assistência social que tem um número limitado de profissionais, a retenção de verbas direcionadas para a merenda dos alunos, a falta de infraestrutura da escola, entre outras. 

No decorrer dos acontecimentos, uma família encontrava-se em uma situação crítica. O pai da família estava desempregado e em decorrência dos atrasos e dívidas, estava há oito meses sem energia elétrica, em pleno inverno, além disso, a mãe era alcoolista e não tinha como alimentar suas crianças, uma menina que freqüentava a escolinha e um bebê. Não agüentando mais vê suas crianças passar fome e frio e não achando auxilio do governo e da assistência social o pai da família mata seus filhos e sua esposa e logo depois se suicida. Esse fato mexe muito com o diretor e pensa em abandonar a escola, porém sob os conselhos de sua noiva resolve enfrentar o prefeito e todo o sistema, reivindicando condições mínimas de vida e dignidade para a população. 

Paralelo à sua rotina e atribuições profissionais, o professor e diretor enfrenta dificuldades pessoais, como a doença do pai, um ex-mineiro que sofre de enfisema, uma cobrança de seu irmão para que ele mude de profissão, além de uma má relação com seu enteado. 





Análise 



O filme apresentado é muito rico em discussões. Ele permite dialogar sobre vários aspectos que envolvem a Educação Infantil. Inicialmente, o que chama atenção, além do número de alunos por sala de aula, são as aulas do Professor Lefebvre. O filme retrata aulas bastante criativas, nas quais o lúdico está sempre presente, assim sendo, as crianças se divertem com canções, pintam, trabalham com as mãos, usam a criatividade de maneira livre, fazem atividades externas a sala de aula, são mediadas pelo professor que passa de grupo em grupo observando e norteando as atividades, além da possibilidade de expressão dos alunos, acerca de seus desenhos e etc. 

Outra idéia transmitida pelo filme é o da escola infantil como ambiente na qual os pais deixam as crianças, por terem que procurar emprego, trabalhar, ou ainda, por não quererem educar seus próprios filhos. Esse pensamento foi construído historicamente e perdura até hoje em nossa sociedade. 

Ademais, existe na contemporaneidade, uma problemática bastante discutida que diz respeito ao binômio cuidar/educar. Nesse contexto, muitas famílias abrem mão de dar a correta educação familiar para suas crianças, deixando essa responsabilidade para os profissionais de educação infantil. 

Por outro lado, muitos profissionais não conseguem definir seus espaços, deveres e limitações, ou seja, não aceitam o fator cuidar como próprio de sua função. O fator cuidar é bastante salientado no filme, nele pode-se observar a atenção para com as crianças, seus comportamentos e até mesmo, seu corpo. Essa atenção faz-se totalmente necessária para se identificar quaisquer lesões, observar se estas alimentam-se bem, se necessitam de auxílios médicos, se possuem algum tipo de deficiência ou doença entre outras necessidades de observação. 

Outro ponto a ser salientado é o questionamento sobre o papel da escola diante das mazelas sociais. Esse aspecto torna visível a importância e a necessidade desta em estar conectada a rede de assistência social, da saúde e do conselho tutelar do município. A escola pode fazer seu papel de denunciar situações de maus tratos, negligencia familiar, exploração do trabalho infantil e/ou sexual. 

Finalmente, o filme marca ainda a influencia do trabalho na vida do profissional de educação infantil. O professor Lefebvre tem sua vida pessoal afetada por sua vida profissional e vice-versa. Esse ponto pode ser identificado quando sua noiva cobra dele mais atenção e até mesmo uma proposta de casamento. Ela julga que o noivo está abstendo de sua vida, devido seu trabalho na escola e seus envolvimentos com a situação social da comunidade. Além disso, seu mau relacionamento com o enteado é situação desencadeadora para um saque na escola, na qual o enteado entregou a chave da escola para “muleques” com a intenção de realizar uma “brincadeira” com o professor. 

Diante do apresentado, podemos perceber que a situação retratada no filme não é distante a nossa realidade. A educação infantil em nosso Pais, mesmo tendo um contexto diferente, sofre com os mesmos problemas. A educação infantil merece uma atenção impar do governo, pois é esse o inicio da formação de muitos Brasileiros. Pra finalizar, gostaria de dispor o depoimento de uma das professoras do filme, que segue a seguir: 



“Há vinte anos eu tinha 45 alunos. Não nos queixávamos. Tinha 45 alunos, heim! Havia disciplina. As crianças eram pontuais e estavam sempre limpas. O que não significa que não houvesse pobreza. Hoje em dia é diferente. Tenho 30 alunos e não dou conta. Eles não só chegam atrasados, como chegam sujos. Os pais estão frequentemente em situação de desespero. São poucos os que trabalham. As crianças nem sabem mais o que é uma profissão. E pode-se dizer que só tem a mim com quem falar. Esperança? Não é dizer que vão passar no vestibular ou estudar muito. Não creio mais nisso, mas dar-lhes afeição porque sou apegada a elas. Enfim, é a esperança que me resta. Se eu lhes mostrasse as crianças, o estado em que se encontram! Tão pequenas e tão frágeis. As mães não cuidam mais dos seus filhos como antes. Não podem. É como se elas quisessem se livrar delas. Elas levam as crianças à escola mesmo com 40 graus de febre. Passam o dia diante da TV. À noite fazem o mesmo com eles para ficarem tranquilos. Até durante o jantar. Resultado: temos de lhes ensinar tudo! Até a dar bom-dia! Tem mais. Alguns nem sabem que podemos conversar com alguém. As palavras servem para dizer: “tenho fome”, “tenho frio”, “tenho sede”. É a sobrevivência.”